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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

OS TOQUES DE TELES

 José Teles é um dos melhores cronistas que eu conheço. A coluna Curto & Grosso, que ele escreve no Jornal do Commércio, do Recife, as domingos é uma aula de bom humor sadio. Já faz tempo que sou um dos seus 786 leitores. Mas Teles tabém escreve no Caderno C, do JC a coluna Toques, de Música. Sempre com boas dicas, indicações e, claro, a opinião objetiva deste talento do Jornalismo de Pernambuco.
      Teles não deixou o Rock in Rio passar batido, óbvio. Reproduzo aqui uma de suas colunas sobre o festival. Ao final, comento.

 ROQUEIRO DE MAMÃE-SACODE


"Não se surpreendam se numa próxima edição do Rock in Rio encontrar nomes de bandas de fuleirage music ou de duplas sertanejas na programação. A era dos festivais de rock ficou no passado. Os festivais são outros, com o domínio da música popularesca, de cantoras mais prendadas de curvas do que de voz (com o pro-tools ninguém mais canta mal).
   Hoje o formato é de festival de verão, que a Bahia soube explorar tão bem comercialmente. A qualidade musical é o que menos importa. Produtos precisam ser vendidos e difundidos e para isso é necessário diversificar as atrações.
   Não fosse a obrigação de manter as aparências roqueiras, um Red Hot Chilli Peppers estaria de fora dos planos. A grade do festival seria Justin Bibier, Luan Santana, Shakira, Rihanna, a ubíqua Ivete Sangalo, Victor & Léo, Paula Fernandes, Capital Inicial, Belo, NXZero, Aviões do Forró. Enfim, artistas que atraem um público crescido com as micaretas, que criou a figura do fã sem rosto. A horda.
   Para este público o importante não é curtir um som, mas estar onde todos estão. É assim nos grandes arraiais juninos. O forró fica em palco conceituais. No principal, só os que atraem a horda. Em lugar de T-shirt, ainda vamos ver a plateia de abadá e mamãe-sacode em festivais de rock."

Concordo com Teles quando ele diz que "a era dos festivais ficou no passado." Mas, aprofundo um pouco dizendo que a era do Rock também ficou. O rock é música atemporal, como poucos gêneros são, mas hoje, não é o filão preferido da indústria do entretenimento. O festival lotaria se tivesse só rock? Não tenho dúvidas de que seria também um grande sucesso, mas existem grandes gravadoras e produtores que "pagam" pra ver seus artistas num palco como aquele, independente de que tipo de objeto eles possam "receber" no palco. E aí vai de garrafas de água mineral a ovos, passando pelos tradicionais tomates. 
    Durante as transmissões do Rock in Rio, pelo Multishow, vi alguém, acho que do Titãs, não lembro, afirmando que essa mistura de ritmos é importante porque "o Brasil é mesmo essa mistura". Ora, mas aquilo é um festival de Rock e não de música brasileira. Não é de hoje, porém, que se incluem outros gêneros musicais no Rock in Rio. Já na primeira edição, o festival contou com gente como Elba Ramalho, Alceu Valença, Moraes Moreira e Ivan Lins. Nenhum deles canta rock, mas ningúem pode discutir a qualidade musical de todos eles. Nessa mesma edição, o tremendão Erasmo Carlos foi vaiado, na mesma noite do Iron Maiden e do Queen. Erasmo voltou ao Rock in Rio em 2011, no palco secundário,ao lado de Arnaldo Antunes, mas não se esquece da lição que aprendeu em 1985: ""Foi naquela apresentação do Rock in Rio que descobri que existe tribos diferentes e que não se pode agradar todo mundo", declarou Erasmo durante o lançamento "Sexo", no mês passado.
     Na segunda edição, a do Maracanã, em 1991, Alceu, Elba e Moraes Moreira voltariam ao festival. Sem grandes problemas. Mas dez anos depois, o Rock in Rio volta à Cidade do Rocke torna-se um grande produto comercial. Carlinhos Brown levou uma chuva de copos e garrafas plásticas, no dia do Guns n' Roses. O festival teve uma noite teen, com os então ídolos Sandy & Júnior, o ainda adolescente Justin Timberlake no 'N SYNC e o playback da pré-insana Britney Spears
    Portanto, não foi uma novidade dessa edição a presença de outros gêneros no Rock in Rio, mas levar Ivete Sangalo ao palco principal e fazer o mesmo com o seu cover mais be sucedido, a também baiana Claudia Leite, foi um grande exagero dos produtores do festival, leia-se Roberto Medina. Festival de Rock não é lugar de coreografia ensaiada. Isso é coisa de micareta. Medina sabe disso. A indústria da música também. Então vamos pular, vamos pular! E curtir o que ainda representar o nome do festival.

    Quer ler mais de Teles? Clique aqui e conheça sua coluna do JC.

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